Você sabe que suas férias serão "daquelas" quando elas já começam com a pitada especial de filhos da puta se esforçando ao máximo para tirar a sua paciência.
Só viajo de ônibus, não tenho a mínima afinidade com aviões. Foda-se o argumento de vocês, o meu barra qualquer um: as minhas pernas não cabem! E para tanto só viajo de bus na primeira poltrona da janela à direita. Os motivos são simples: é o lugar mais espaçoso, não tem nenhum infeliz na minha frente para prender minhas pernas e, numa eventual colisão, o lado oposto é o mais afetado.
Passagem de ida comprada com um mês de antecedência para garantir precioso lugar, eis que chega o aguardado dia. Subo ao ônibus e me deparo com "Cláudia", uma senhora lá com os seus 70 anos de idade ocupando a minha poltrona. O nome dela não é necessariamente esse, mas foi assim que decidi chamá-la nas horas que se seguiram.
- Oi, boa noite. Essa poltrona é minha, a senhora poderia me dar licença?
- Ai, moço. Esse é o seu, né? Viu, "Fulana: , sabia que o moço ia chegar. Achei que fosse ser uma moça, que daí eu pediria pra ficar na janela. Você não quer me deixar na janela não?
- Não. ;)
A guerra estava declarada.
O ônibus ainda não tinha partido quando eu já escutava uns resmungos abafados através do meu divino headphone azul: "Sempre quis ser idosa pra viajar aqui assim", "ai, minhas perninhas". Caguei.
Passados doze minutos após a saída (sim, cronometrei), o bus enguiça no meio da Av. Brasil (oy, oy, oy!) e na lacuna de tempo entre a troca de bus eu pude conhecer um pouco mais da personalidade de "Cláudia", velha beata, oferecida, inconveniente, pedante, mal educada, intrometida e dissimulada. Uma candura de mulher!
Mantendo o pouco de simpatia e educação que ainda me restavam, "Cláudia" desceu na minha frente em direção ao bus substituto, sentando novamente no lugar que, literalmente, me cabia.
Dessa vez não disse nada. Encisnenegrecido parei no corredor e apenas olhei para aquela cena patética.
- Agora tudo mudou. Trocou de ônibus, trocou o lugar também. - Disse "Cláudia".
- Minha senhora, escute bem: minha passagem está tão paga quanto a sua. Se quisesse sentar aí, comprasse tal poltrona. Agora senta lá, faz favor?
- Mas eu vomito.
- A janela nem abre! Tá vendo algum trinco aqui?
Contrariada, volta para o seu lugar. A minha vontade naquela hora era ter sentado em cima.
Tentando esquecer o ocorrido, coloquei Metronomy na vitrola e fui dormir. No entanto, os faróis dos carros que vinham de frente causavam certo incômodo. Fechei as cortininha, mas "Cláudia" não saisfeita foi lá e reabriu.
Era uma guerra deliberada. E meu objetivo, no alto dos meus 8 anos, dali para frente não mais era dormir, e sim vencer essa batalha.
Se era luz que ela queria, era luz que ela iria ter. Em posse da minha câmera e com o flash ligado dei o que ela tanto queria. Só não fui mais FDP pra não ser inconveniente com os outros passageiros. Mas ficou o registro.
A viagem seguiu tranquila, acabei pegando no sono e desde que desembarquei em São Paulo nunca mais vi "Cláudia" novamente.
Se era luz que ela queria, era luz que ela iria ter. Em posse da minha câmera e com o flash ligado dei o que ela tanto queria. Só não fui mais FDP pra não ser inconveniente com os outros passageiros. Mas ficou o registro.
A viagem seguiu tranquila, acabei pegando no sono e desde que desembarquei em São Paulo nunca mais vi "Cláudia" novamente.